A Moda espera ressurgir em 2021
Artigo original publicado na Hipersuper
Covid-19 quebra o ciclo do têxtil
O têxtil (inclui roupa, calçado e acessórios) foi uma das indústrias mais atingidas pela crise sanitária de 2020. A quebra nas visitas às lojas, juntamente com um maior tempo em casa e que fez-nos rever e arrumar os nossos guarda-roupas, redescobrindo algumas peças que tínhamos esquecido, condicionou um ano em que esperávamos uma recuperação importante. Lembremos que este mercado havia crescido em 2018 (12 meses a terminar a 17 de junho de 2018), com tendência positiva tanto em valor (+ 2,8%) como em volume (+ 6,3%). Em 2019, no mesmo período de tempo (12 meses a terminar a 16 de junho de 2019), a tendência foi inversa, existindo uma retração sobretudo no volume de peças compradas, correspondendo a uma queda de -4,5% uma vez que em termos de valor, os indivíduos portugueses dedicam mais ou menos o mesmo (-1,2%). Portanto, no ano de 2020, pelo comportamento cíclico habitual desta categoria, deveria haver um incremento, mas que acabou por ser travado de forma abrupta.
De facto, o primeiro trimestre do ano confirmava esta esperança de crescimento no setor, com um aumento do gasto em têxtil em 2,5% por parte dos portugueses, incrementando o gasto em vestuário 3,3% e reduzindo ligeiramente em calçado e acessórios. No entanto, no segundo trimestre houve uma queda de 64,5% do gasto realizado em têxteis, comparando com 2019, levando os gastos na categoria a mínimos históricos, apesar do salva-vidas que significaram, neste trimestre, as vendas online, onde foram atingidos 12% das vendas totais do setor.
Com tudo isto, o ano para o setor de têxtil deixa-nos uns valores de quebra entre janeiro e junho de 2020 de 31,5% do gasto realizado pelos portugueses. Com uma queda bastante transversal a todas as categorias, onde observamos uma redução de gastos de 29% com vestuário e que aumenta para uma queda de 40% nos gastos com calçados e acessórios. Um panorama complicado, mas que, ainda assim, começa a dar alguns sinais de recuperação no mês de julho, ainda insuficiente para reduzir as grandes quedas anuais.
Retalhistas de FMCG alcançam as sua melhores quotas num mercado reduzido
Nos últimos dois anos ocorreu o “boom” dos Hipers/Supers, através da forte aposta de várias insígnias nesta categoria. Este canal tem vindo a crescer e no segundo trimestre de 2019 alcançava, em conjunto, 12% do valor do mercado, algo que se repetia no primeiro trimestre de 2020. Com a chegada da crise sanitária, os retalhistas alimentares foram dos poucos estabelecimentos que permaneceram constantemente abertos e com registo de visitas, apesar das limitações na venda de alguns produtos, o que os levou a atingir no segundo trimestre de 2020 uma quota de 21% do mercado. Se somarmos a este peso, ao já referido canal online (12%), encontramos um panorama no setor de têxtil português, onde o segundo trimestre de 2020, num mercado mais pequeno, um terço das vendas do setor ficaram nos retalhistas alimentares e no canal online. Uma grande mudança para o canal especializado que, no primeiro trimestre de 2020 e com um setor em crescimento, fortaleceram as suas posições, capturando 63% dos gastos do mercado.
O futuro do têxtil passará por um aumento da omnicanalidade e por reinventar a experiência de compra
O consumidor irá movimentar-se nos próximos meses em função da evolução dos eixos económico-sanitários e isso afetará todos os setores. Por um lado, teremos novos grupos de compradores, haverá pessoas menos preocupadas e dispostas a reativar os seus gastos, como já vimos neste verão, mas haverá uma grande maioria de pessoas com maiores limitações e para quem o preço será um fator ainda mais determinante. Num setor, onde nos últimos anos, já assistimos a uma guerra de preços agressiva, à medida que as cadeias muito posicionadas no "preço baixo" ganham peso no mercado português, veremos como as margens resistem a um novo ajustamento, algo complicado especialmente para as cadeias independentes que enfrentam um grande desafio de sobrevivência.
Por outro lado, o setor deve reinventar a sua experiência de compra perante uma situação instável. As lojas físicas precisam de reinventar os seus conceitos de provadores e tempo de permanência na loja, para se adaptarem a um consumidor que procura segurança e inclusive fugir da multidão na hora de fazer as suas compras.
Para além disto tudo, está o protagonismo do canal online. Como já foi demonstrado no segundo trimestre de 2020, em muitos casos, o online será a única forma de contacto com os consumidores e isso é algo que pode voltar a crescer se enfrentarmos novas limitações de mobilidade. De qualquer forma, o crescimento do canal online veio para ficar, quer com compradores exclusivos, quer numa lógica mais normal, aliada às visitas às lojas que serão menores, este canal será a chave da resistência do setor nos próximos anos.
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Marta Santos
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