Da revolu??o agr?cola ao prato de hoje, nada mudou!
Artigo original publicado na Grande Consumo
Durante 2,5 milhões de anos, os seres humanos alimentaram-se através da colheita de plantas e caça de animais que viviam e se reproduziam sem a sua intervenção. A revolução agrícola proporcionou o acesso a uma maior diversidade de alimentos, como o trigo, o arroz, as batatas ou o milho, que foram “domesticados” pelo homem entre 9500 A.C. e 3500 A.C. É por isso que, mesmo passados tantos anos, a nossa cozinha hoje é influenciada pelos antigos agricultores que foram passando de geração em geração a dependência destes cereais e derivados ou tubérculos. A importância destes alimentos hoje em dia é tal, que a direção geral de saúde recomenda que representem 28% da alimentação diária. É por isso, sem surpresa, que ingredientes como arroz ou massa alimentícia, façam parte das receitas diárias, conseguindo entrar em mais de 90% das casas dos portugueses no último ano.
Arroz e massa alimentícia são dois tipos de hidratos de carbono importantes na alimentação básica dos portugueses, mas em diferentes proporções. Apesar de serem as massas alimentícias o produto que chega a mais lares portugueses, a quantidade de arroz comprada, num ano, é 10kgs superior ao da massa alimentícia. Assim, no último ano, um português consumiu em média 9kgs de arroz e 5kg de massa alimentícia.
Portugueses fintam inflação até nos bens alimentares básicos
O desejável seria que o preço dos bens alimentares básicos nunca fosse inflacionado, no entanto, não é isso que está a acontecer. Face a todo este contexto e para entender como os portugueses se adaptam a esta nova realidade, é fundamental entender quais as categorias que entram na sua cesta mais comprada.
Considerando que, para entrar nesta cesta é preciso atingir um grande número de compradores e fazer com que a sua compra seja frequente, esta cesta é composta por categorias, como por exemplo, frutas, massa alimentícia seca, arroz, conservas, carne fresca ou laticínios. No contexto inflacionário atual, o custo, no mês de junho de 2022, de uma cesta com os produtos que mais contactos têm com os portugueses é de 160 euros, mais 10€/mês do que no mês de junho do mesmo período de 2019. Analisando ao ano, esta cesta está mais cara 189€ do que estava em 2019.
Sem qualquer mudança de produtos, o cabaz estaria hoje 24% mais caro face ao período pré-pandémico. Mas a mudança real de preço foi de 13%, o que significa que 45% do aumento de preços foi ultrapassado por mudança nas escolhas dos compradores. Entre estas mudanças está o abandono de categorias, e inclusive, arroz ou massas alimentícias secas veem as suas categorias a perder penetração face ao período pré-pandémico.
Outra alteração no comportamento de compra, está relacionado a manutenção na categoria, mas a custo mais baixo. Assim, a adaptação das famílias passou por beneficiar a marca da distribuição que viu neste contexto uma nova alavanca de crescimento. Cruzando a evolução do preço médio das categorias da cesta mais comprada e a evolução da quota da marca da distribuição, percebemos que até nos hidratos de carbono mais básicos os portugueses necessitaram de procurar uma solução que fizesse face ao incremento dos preços e por isso beneficiaram as marcas de distribuição tanto para arroz como massas alimentícias secas.
Hidratos de carbono diferentes são mais atrativos
Quando pensamos em massa alimentícia ou arroz pensamos em categorias essenciais no prato português. Apesar de ser verdade, é de salientar que, por exemplo, no caso do arroz, em 2022, este produto perdeu 3 lugares no top 20 de categorias que entram na cesta mais comprada, passando a ocupar a 18º posição no ranking. Esta alteração de prioridades mostra que mesmo categorias essenciais ou básicas precisam encontrar novas formas de continuarem a crescer.
Segundo o estudo global da KANTAR, Brand Footprint de 2022, alavancas de crescimento são aquelas que passam por explorar maior presença, mais targets, mais categorias, novas necessidades ou mais momentos de consumo.
No caso do arroz, uma categoria que no último ano chegou a mais de 93% das casas portuguesas, é possível verificar que não é o arroz mais tradicional que tem atraído compradores. Ao fecho do ano de 2021, o arroz basmati, além de ser o único tipo de arroz a atrair mais compradores comparando com 2019, já chegava a quase 30% dos portugueses. O arroz basmati têm-se mostrado uma solução alternativa ao tradicional arroz agulha, revelando um comprador aberto a experimentar novos e diferentes produtos.
Esta inspiração serve também para as massas alimentícias. Com 96% dos portugueses a comprarem em média uma vez ao mês, são as massas alimentícias refrigeradas a dar o mote à maior regularidade de compra. Este tipo de massas cada vez mais popular, já conta com mais de 60% de compradores e torna os pratos mais especiais, mas também práticos e rápidos de preparar.
Nestes dois exemplos, alavancas como mais categorias ou novas necessidades são as fórmulas de sucesso que mostram que ainda que se tratando de simples hidrato de carbono, também estes podem encontrar novas formas de crescimento.