Um Natal tradicional, com um toque de conveniência
2017 revelou ser um ano desafiante para o setor do Grande Consumo que apresentou dificuldades de crescimento, impactando em particular o volume do sector da Alimentação para dentro dos lares portugueses.
Em 2018 temos vindo a assistir a uma progressiva recuperação do setor com o aumento das cestas dos lares portugueses.
Contudo, apesar de estarmos já próximo do final do ano, não podemos ainda “fechar contas” sem considerar o período mais importante em vendas: o Natal. De facto, apesar do cenário menos positivo de 2017, foi o Natal que contribuiu em grande medida para minimizar as perdas em FMCG do ano passado. As últimas quatro semanas do ano foram muito boas em termos de volume e de valor, crescendo 5% e 7,5%, respetivamente.
Dezembro continua ainda a ser o mês que concentra mais vendas de produtos alimentares típicos das datas festivas, sendo que nos últimos dois anos essas compras têm aumentado no número de produtos que incluimos no carrinho de compras. De um total de 28 categorias de produtos sazonais consideradas, registou-se um aumento na compra em 23 categorias em 2017, mais seis categorias do que no ano anterior.
É também curioso perceber que a compra de produtos sazonais nos últimos meses do ano tem reduzido 3,5% em relação a 2016, o que confirma a ideia de que os portugueses não tentaram antecipar as compras sazonais ou fazer stocagem de produtos, reservando mesmo o mês de Dezembro para encher os carrinhos de compras.
O Mix da cesta de produtos sazonais
Os produtos mais comuns nas mesas de Natal ainda são essencialmente os mesmos de há dois anos atrás. Como manda a tradição, a mesa de natal compõe-se com os habituais doces de Natal, além dos quais são de destacar os bombons e chocolates, o marisco, os queijos e o presunto, o bacalhau, todos regados de azeite e bom vinho.
Estes e outros produtos mais sazonais da quadra festiva em 2017, representaram 45,5% das compras de alimentação durante o mês de Dezembro. Os lares portugueses compram cerca de 4,37 kg e gastam 19 euros do seu orçamento nestes produtos sazonais em cada visita às lojas durante o mês de Dezembro.
Os bombons e chocolates são presença obrigatória nesta quadra, quer para consumo dentro do lar ou para oferta. 50,4% dos lares portugueses compram bombons e chocolates durante os últimos 3 meses do ano, sendo 38% durante o mês do Natal. No final da quadra natalícia acabam por comprar cerca de 900gr e dedicam 15,6 euros do seu orçamento a este tipo de produtos.
Apesar da tradição ainda se manter, existem ainda assim alguns produtos que têm vindo a perder peso na cesta natalícia: as bebidas espirituosas e o bacalhau seco. Apesar de ser tradicionalmente um dos produtos mais típicos nesta época do ano, o bacalhau tem vindo a perder algum protagonismo, pelo menos no seu formato mais tradicional como é o caso do bacalhau seco.
Habitualmente num produto que exige uma compra antecipada e algo planeada, uma vez que contempla alguns processos antes do consumo (como por exemplo demolhar), a compra de bacalhau seco sofreu um decréscimo nos últimos três meses do ano (menos 8,8% em volume em 2017). De facto, também aqui confirmamos que os portugueses não tentaram efetivamente antecipar as compras sazonais ou fazer stocagem de bacalhau seco nos últimos três meses do ano.
Mas neste caso o mês de Dezembro também não foi reservado para a compra de bacalhau seco, uma vez que neste periodo a queda é ainda maior (menos 11,9% do volume comprado em 2016). Uma possivel explicação para esta alteração do padrão de compra pode passar pelo adicionar conveniência à tradição, uma vez que em contrapartida vemos o bacalhau congelado a ganhar espaço no carrinho de compras como uma das categorias que mais crescem em volume de compras durante o mês de Dezembro de 2017 e assumindo lugar entre o top 10 de categorias sazonais (mais 3,1% face a 2016).
Se por um lado passamos a privilegiar a conveniência, por outro não descuramos a frescura e a qualidade, razão pela qual o peixe e o marisco fresco assumem o pódio dos produtos sazonais mais comprados no mês do Natal (mais 9,5% em Dezembro de 2017).
No caso, as bebidas espirituosas, entre as quais o champanhe e o whisky, apesar de há dois anos estar entre o top 10 dos produtos sazonais mais comprados na quadra festiva, em 2017 perde 8,3% do espaço na cesta dos compradores portugueses. Aliás, no que se refere a bebidas alcoólicas, apenas o vinho continuou a conquistar espaço na cesta sazonal.
Mas o que significa isto? Com este mix de produtos sazonais que convivem nas cestas dos compradores portugueses, significará que as famílias estão dispostas a pagar ou gastar mais pelas suas compras em Dezembro? Na verdade, e como todos bem sabemos, existe um possível aumento de preços que frequentemente registados nessas datas e que podem estar na base desta valorização.
Existem ainda outros fatores que nos podem ajudar a explicar o que torna a cesta natalícia mais cara: compramos efectivamente produtos mais caros, premium ou gourmet? No Natal que se avizinha, iremos escolher mais marcas de fabricantes em detrimento das marcas da distribuição que já fazem parte da nossa cesta habitual? Ou iremos optar por visitar lojas mais especializadas e potencialmente com um índice de preços mais elevado em vez dos Smart Discouts e Hipers e Supers do nosso dia a dia ao longo do resto do ano?
Apesar da época festiva de 2016 bastante positiva, 2017 revelou-se algo desafiante para algumas categorias (ex: bebidas, sugar tax). Neste sentido, o Natal de 2018 apresenta-se como um desafio para, por um lado, voltar a atingir os valores de venda de 2016 e, por outro lado, contrariar a tendência negativa que registámos ao longo de 2017. A questão que se coloca é se de facto em 2017 foi um ano atípico na redução de compra ou se será um padrão que veio para ficar. Refletir-se-á também no Natal de 2018 a recuperação da confiança económica, com resultados positivos para os fabricantes e para as marcas?
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Marta Santos
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