Abastecer o carro: todas as compras são ponderadas?
Abastecer o carro: uma tarefa mundana para muitos portugueses, mas será que se pondera cada vez mais neste simples ato?
No último ano, o mercado de combustíveis fósseis particulares manteve a mesma base de compradores do ano anterior. Depois de recuperar dos confinamentos e das restrições à circulação, na pandemia, a estabilização de compradores é encorajador para o setor no cenário de subida e descida de preço constante dos últimos dois anos. No entanto, praticamente todas as gasolineiras perderam veículos a abastecer nos seus postos. O que se passa? Os portugueses tornaram-se mais focados nas suas escolhas e portanto duplicam menos, dando mais peso à sua marca preferida. Como consequência deste movimento, a taxa de repetição e fidelidade (percentagem em volume abastecida pelo comprador de uma marca nessa mesma marca) aumentaram praticamente em todas as gasolineiras.
O preço médio pago (€/lt) caiu entre 4 a 9%, dependendo do tipo de combustível considerado, impactando no comportamento dos portugueses na hora de abastecer os seus veículos. Ainda que esteja a acontecer um novo aumento gradual nos últimos meses, a verdade é que o preço médio continua longe dos níveis de preços atingidos em junho de 2022. Em 2022, os compradores tiveram que adaptar os seus abastecimentos, reduzindo o volume para evitar que o talão final disparasse acima das suas possibilidades imediatas. Menor volume no depósito, significou um aumento acentuado da frequência de abastecimento para compensar. Com a regularização/descida do nível de preços no mercado de abastecimento, os compradores puderam aumentar novamente o volume por abastecimento, sem porem em causa o seu orçamento familiar. Aliás a percentagem de compradores que diz ser difícil fazer face às despesas de combustível caiu 21pp de 2022 para 2023, no entanto continua a ser uma dificuldade para pouco mais de metade dos portugueses (Estudo de Preço 2023, da Kantar). Ainda assim, esta recuperação do volume por abastecimento, não colocou em causa a frequência de abastecimento que continua nos mesmos níveis do ano anterior.
Dinâmicas de preços muito voláteis e grandes aumentos, acabam por levar os compradores também a aumentar a sua procura por promoções. Há mais 6% de automobilistas que abasteceram com promoção no último ano vs. o ano anterior. No entanto, este aumento é residual quando mais de três quartos dos veículos são abastecidos usando algum tipo de desconto. O aumento realmente significativo foi em volume abastecido com desconto que cresceu mais de 60%. No caso das marcas que oferecem descontos regularmente aos seus compradores, o volume abastecido usando descontos já representa mais de 50% do volume abastecido pelos particulares. Os portugueses sempre usaram descontos na hora de abastecer os seus veículos, porém este mecanismo torna-se cada vez menos dispensável e é usado mais frequentemente.
No entanto, o motivo de escolha para o posto de abastecimento que mais cresceu não foi o cartão de fidelização/desconto. O uso de descontos também implica um maior planeamento e preparação do abastecimento em alguns casos, dependendo da obtenção de um talão de desconto ou um cupão nas compras do canal alimentar. As parcerias com o canal alimentar têm gerado dinâmica na área dos combustíveis, sendo que já representam mais de 65% do volume abastecido pelos particulares, usando algum tipo de cartão, crescendo face ao ano anterior. Da mesma forma, a localização conveniente perdeu peso nos motivos de escolha dos automobilistas portugueses e é o inesperado que quase duplica em número de abastecimentos: ter o veículo na reserva.
Claro que tudo o que aqui se abordou são tendências do último ano vs. o ano anterior, mas é bastante interessante comparar e acompanhar as dinâmicas mês a mês. Porquê? Porque os portugueses não fazem as mesmas escolhas todos os meses no que diz respeito a abastecer os seus veículos. Seja porque o preço subiu e portanto tentam abastecer mais em gasolineiras low cost, ou porque houve uma parceria ou gasolineira que fez uma promoção especial que atraiu mais abastecimentos aos seus postos, ou até porque é um mês de férias/viagens e portanto estão fora do seu local de rotina a abastecer em gasolineiras mais convenientes nos seus trajectos, todos os meses a dinâmica de vencedores e vencidos muda de panorama, beneficiando uns e outros ao longo do tempo.
No final de contas, os portugueses não parecem estar a dedicar mais tempo a ponderar as suas escolhas no que diz respeito a abastecer os seus carros, muito porque já o dedicaram no passado e agora se sentem em “piloto-automático” confortáveis a continuar com o mesmo plano que já definiram no passado.
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Marta Santos
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