Haja sempre bacalhau na despensa dos portugueses
Artigo original publicado na Hipersuper
Que os portugueses estiveram mais tempo em casa em 2020 e por isso desenvolveram a maioria das categorias dentro do lar já não é novidade. Alterámos hábitos de compra tentando evitar as compras ao fim de semana, reduzimos a frequência da nossa ida às lojas, aproveitámos mais tempo em casa para cozinhar mais, e acabámos por ser induzidos a ter mais consumo dentro de casa, tanto em momentos como em quantidade.
O Bacalhau é há muito uma escolha fácil para a maioria dos portugueses, pois permite o armazenamento durante longos períodos de tempo sem deteriorar e que pode resultar num variadíssimo leque de opções no prato. Em Março de 2020 (P3), no pré-confinamento, a categoria sofreu um boost fora do esperado, momento em que os portugueses procuraram Bacalhau para armazenar. Também em Novembro de 2020 (P12) houve um aumento anormal da categoria dentro dos lares, que podem ter antecipado a compra do Natal para “fintarem” as medidas mais restritivas que se anteviam.
Quando falamos de praticidade e variedade de pratos do bacalhau sabemos que em 22% das ocasiões de consumo este produto é procurado pela sua conveniência, sendo consumido pelo menos uma vez por semana. No entanto, mesmo com as “mil e uma formas de cozinhar Bacalhau” disponíveis, o método mais básico acaba por ser o mais usado, quase 40% das vezes o Bacalhau é cozido.
Neste contexto, uma categoria como o Bacalhau, que está presente em mais de 90% dos lares, cresceu a dois dígitos no último ano (findo a 6 de Dezembro de 2020). O crescimento da categoria foi motivado por um maior consumo per capita, cada lar comprou mais 2,4Kgs de Bacalhau, chegando aos 19Kgs num ano. Isto significa que cada consumidor comeu mais 1 kg de Bacalhau no decorrer de 2020, chegando aos 7,7Kgs por pessoa.
Mais de 50% do crescimento do volume da categoria deve-se aos Lares mais velhos (acima de 50 anos), aqueles que provavelmente mais procuraram refugiar-se em casa durante os momentos mais complicados da pandemia. Tal como acontece no FMCG, as classes mais altas, que em 2020 passaram mais tempo em casa e aumentaram o seu consumo dentro do lar, são responsáveis por uma importante fatia do crescimento de Bacalhau. Isto faz com que o rendimento disponível destes lares venha impactar diretamente o aumento do Gasto Médio da categoria.
A dinâmica do Bacalhau é um espelho da realidade do Seco/Salgado que domina a categoria, representando 84% do volume total. Esta variedade cresceu cimentada numa maior compra média por lar. No entanto, também o Bacalhau Congelado foi uma opção para os portugueses, continuando a conquistar compradores (mais 67 mil lares), cresceu nos lares portugueses em 2020, associado à tendência de praticidade e facilidade de preparação, bem como o fácil armazenamento.
Para além de estarem a consumir mais, os portugueses estão também mais atentos à origem do produto, sendo que tanto o Bacalhau da Noruega, da Islândia e até o do Atlântico estão a ser mais procurados em detrimento de bacalhau de origem desconhecida, que se encontra em queda.
Adicionalmente, os portugueses deram prioridade a bacalhau de maiores dimensões na sua cesta em 2020. O Bacalhau Especial (+de 3 Kgs) foi o que mais cresceu face ao ano anterior e o Graúdo (de 2 a 3 kgs) foi segundo, sendo agora líder de mercado dentro do Bacalhau Seco/Salgado. Por outro lado, o Bacalhau Crescido (de 1 a 2 Kgs) que antes era líder de mercado, perde 3% do seu volume para outros bacalhaus. Esta troca de consumo de um segmento barato para outros mais caros, influencia também o aumento do Gasto Médio em Bacalhau, e pode espelhar o investimento das classes mais altas na categoria.