O futuro em mente…
> Artigo original publicado na Grande Consumo
… Mas primeiro os factos:
- Menos “bocas” para alimentar: Em 30 anos Portugal perderá cerca de 1 milhão de habitantes, aumentando ainda mais o fosso da (invertida) pirâmide etária do nosso país;
- Consumidor descrente: Um país onde a economia mostrou em 2019 alguns sinais de recuperação, mas que não levam ao consumidor a sensação de maior confiança (2019 revelou as maiores descidas na confiança do consumidor nos últimos 3 anos);
- Consumo mais individual: As famílias em Portugal caracterizam-se por serem constituídas por menos elementos, 2,5 em 2017 vs 3,8 em 1960;
- A recuperação comedida: Um consumidor que enfrentou tempos de crise, de elevada carga fiscal e barreiras orçamentais e salariais, que ao entrar no período de recuperação tornou-se especialista na poupança seletiva, havendo agora maior abertura para gasto, comer fora de casa por exemplo, mas com contenção, e por isso em 2019 as famílias portuguesas aumentaram em 4,1% o seu gasto em produtos de grande consumo para o lar;
- Novas necessidades de uma esperança média de vida mais longa: O grupo comumente considerado por “seniores” (com mais de 65 anos de idade) que representam cerca de 22% da população atual, em 2048 estima-se que represente cerca de 35%;
- A saúde como ponto de partida e não de destino: O estado da saúde dos consumidores condiciona as suas escolhas, a elevada prevalência de patologias como Colesterol, diabetes e tensão alta, em consumidores mais envelhecidos condiciona as suas escolhas de produtos de alimentação, e resulta em novas necessidades de consumo;
As escolhas que o consumidor (não) faz
São muitos os fatores que caracterizam e condicionam as escolhas dos consumidores, e cada vez a alimentação torna-se numa discussão com traços epidémicos, não só devido à respetiva escassez e ao impacto ambiental, mas também devido a uma miríade de temas relacionados. O crescimento das taxas de obesidade nos países do primeiro mundo, a obsessão por alimentos saudáveis e o impacto da exploração animal no meio-ambiente, são alguns exemplos. Estes fatores alimentarão, nos próximos anos, as conversas sobre uma visão diferente dos alimentos com implicações ambientais, económicas e geopolíticas.
Em Portugal já se notam alguns movimentos, tanto por parte das escolhas do consumidor, como da parte da oferta, com muitos players importantes a dedicarem investimento em produtos Plant Based Food. Ao analisarmos as refeições realizadas pelo consumidor dentro de casa (Painel de consumo da Kantar – Usage) identificamos já que 26% das ocasiões de consumo em 2019 foram realizadas sem a presença de alimentos de origem animal.
Muitas foram as ocasiões durante 2019 em que as Nações Unidas pediram uma mudança no comportamento alimentar humano. Especificamente, a organização afirmou que dietas à base de plantas devem substituir a carne para mitigar as mudanças climáticas. No estudo realizado pela divisão Worldpanel da Kantar (em 29 países a nível mundial), a cerca de 70 mil consumidores, #WhoCaresWhoDoes, questionou-se a sua disposição em reduzir a carne para proteger o meio ambiente. Foram encontrados os seguintes resultados:
- Globalmente, as reduções no consumo de carne relatado ainda são raras. Em média, 56% de todos os entrevistados afirmam que nunca ou raramente evitam carne para salvar o planeta. Apenas 16% afirmam que frequentemente ou sempre preferem uma dieta sem carne.
- Entre os países, encontramos diferenças substanciais na redução declarada de carne: Os três países em que os consumidores quase não se abstêm de pratos à base de carne são República Checa (77%), Rússia (76%) e Brasil (75%).
- No outro extremo da escala, os países onde a maioria dos consumidores alegam substituir a carne por opções vegetarianas incluem Chile (39%), França (22%), Áustria (20%), Suécia (20%) e China (20%).
O consumidor Português tem demonstrado grandes mudanças, não só ao nível da redução de consumo de Carne e Peixe, mas também dentro do espectro de alimentação saudável, ao nível de uma maior procura e reforço da compra de produtos biológicos, que crescem a 2 dígitos há vários anos (+23% evolução em valor 2019 vs 2018).
O Bem-estar vs Conveniência
Uma tendência, na verdade “A” grande tendência que veio para ficar, não tem apenas a ver com o bem-estar físico, enquanto saúde física e/ou psicológica, mas coma progressiva escassez de “tempo” que alimenta a procura por conveniência e valor.
Quais os limites na perceção do consumidor para um produto/serviço de valor adicional vs um produto / serviço demasiado caro? No final do dia estamos a falar do e com o mesmo consumidor, aquele que procura avidamente promoções, e que em 69% das suas cestas leva algum produto em promoção, e que assume que promoções são uma obrigação das marcas que compra e das lojas que visita. Mas que por fim, está disposto a pagar mais caro por uma refeição pronta, com taxa de entrega acrescida, tudo em prol da praticidade e do seu bem estar.
O consumidor continuará a procurar pela melhor oferta “MAIS”: mais inovadora, mais sustentável, mais saudável, mais conveniente e nem sempre a mais acessível, mas sim a mais vantajosa.
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Marta Santos
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