Pet Care: Um universo de extremos
Artigo original publicado na Hipersuper
Mais de metade das famílias portuguesas têm animais de estimação em casa, um número que tem vindo a crescer ao longo dos últimos anos. Todavia, apesar da tendência crescente, este mercado pesa cerca de 2% daquilo que os portugueses gastam no total FMCG.
Crescente também é o número de compradores deste mercado vs. os donos efetivos destes animais. Existe uma boa parte destas vendas que não chega a entrar nos lares portugueses, que correspondem às doações a associações/entidades, ou até simplesmente a pessoas singulares, que também fazem hoje mover este mercado.
As fortes campanhas de sensibilização têm neste âmbito um papel fundamental e quando são lideradas e/ou facilitadas por marcas altamente reconhecidas, conseguem resultados fantásticos! Exemplo disso, foi a campanha do Lidl “Abandono Não tem Graça”, que em 2019 bateu recordes: “a maior doação de ração animal alguma vez feita em resultado de uma campanha de sensibilização contra o abandono animal, desenvolvida exclusivamente por uma empresa de retalho”. Aliando o desafio no Facebook dos seus fãs, às compras em loja conseguindo cerca de 43 toneladas de ração. Ou, mais recentemente, a “Não deixe para amanhã a ajuda que pode dar hoje”, do Banco Solidário Animal em período de pandemia, com o apoio da Missão Continente que conseguiu 21 toneladas, sem os habituais voluntários.
Olhando para a clientela destas duas insígnias, facilmente entendemos o alcance de compradores que fazem nestas lojas as suas compras de FMCG vs. os compradores que compram nelas Pet Food (compras que entram nos lares portugueses). E claro, o potencial que a categoria ainda tem nestas insígnias… até aos 60,6% de penetração do total mercado.
Mas se em tempos pandémicos se o universo de pet care teve um papel preponderante para uns, para outros tornou-se mais um peso – a responsabilidade, o trabalho, e a despesa. E os tempos que se avizinham prevêem-se difíceis. Os pedidos de adoção de animais de companhia dispararam durante o confinamento e o isolamento social, em simultâneo, aumentaram também as situações de abandono e violência aos animais, devido à deterioração das condições económicas de milhares de portugueses, mas também a receios que pudessem transmitir o novo vírus aos seres humanos (mas antes, e infelizmente, também já existiam).
Um universo de extremos, cuidadores (ou não) do 8 ao 80!
Do lado do 80, temos todo um universo premium: linhas de saúde, serviços de catering, creches, fotógrafos, esplanadas e cafés, cabeleireiros, lojas de roupa, spas, festivais, pastelarias, existe de tudo! O pet friendly tornou-se um habitué e até espaços e negócios se renderam: o Alegro Alfragide, o LX Factory, os transportes – metropolitano, a TAP. Ou até as Pousadas de Portugal são exemplos disso – têm acessos e serviços exclusivos ex: WC’s, sinaléticas "Bem-vindos Cãopanheiros", etc. Deste lado, a forma de tratamento humano no pet care faz com que os valores e opções de consumo e de vida, se transfiram da família para o animal de estimação. E assistimos neste momento, a um afastamento do segmento seco e maior interesse em húmido e snacks tanto nos universos de cão, como de gato. Enquanto que a alimentação mais natural e crua ganha relevância. Não obstante, a alimentação seca continua a representar mais de 76% do volume do mercado (YTD P6’2020), mas com -1,5 de quota Vs. homologo.
Neste primeiro semestre do ano, cada lar português gastou em média 58€ (+7,1% vs. homologo), num universo que continua a ser liderado por fabricantes – Nestlé continua a fortalecer a sua liderança.
Este novo contexto, favoreceu a Distribuição Moderna de uma forma geral, mas com destaque para o Intermarché que ganha relevância no mercado. Registando compras mais frequentes e maior € investimento. Mesma tendência do canal Online. Tal como assistimos de forma geral em FMCG, também em no universo de Pet Food o comprador descentraliza as suas compras. Prova disso, é o crescimento dos Tradicionais neste universo. Por tudo isto, o desafio é grande - para marcas e retalhistas!
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Carla Duarte
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