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Um lacticínio por dia? Já não é bem como se fazia…

01/09/2020

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Um lacticínio por dia? Já não é bem como se fazia…

Historicamente, na cultura alimentar portuguesa e europeia, no geral, os lacticínios sempre desempenharam um papel de relevo. Desde a sua confeção artesanal da Idade Média até à massificação da produção no século XX, a presença destes alimentos sempre foi tida em conta como essencial numa dieta saudável e equilibrada. Porém, sobretudo nas últimas duas décadas, têm surgido vários debates não só sobre as consequências desta produção em escala, mas também sobre a real importância e necessidade da presença dos lácteos no regime alimentar, contribuindo fortemente para a diminuição do consumo que esta indústria tem verificado nos últimos anos. Nos próximos parágrafos iremos focar a nossa análise não só na evolução da compra, mas sobretudo no impacto das suas alternativas alimentícias, na adaptação às novas rotinas de consumo e no papel desempenhado junto dos portugueses em momento de crise dos quatro mais representativos produtos lácteos do mercado: a manteiga, o queijo, os iogurtes e, claro, o leite.

O impacto do crescimento das alternativas lácteas

Para percebermos o quão rápidas podem ocorrer as mudanças nas prioridades alimentares, em três anos, o conjunto destes quatro produtos, passaram de ocupar 13,4% do orçamento alimentar dos portugueses em 2016 (excluindo bebidas), para 12,4% em 2019, significando vários milhares de litros e quilos a menos que estão a entrar nos lares e tendo como principais protagonistas o leite e os iogurtes. Além da já referida importância da comunicação sobre a relevância nutricional destes produtos, a verdade é que também as alternativas no mercado não só têm crescido, como também estão cada vez mais acessíveis, em termos de disponibilidade e preço, tornando-se cada vez mais “mainstream”. Pensando não só nas alternativas vegetais, mas também nos produtos sem lactose, verificamos que o seu impacto é relevante, mas não exclusivo na diminuição da compra dos lácteos, sendo que esta categoria tem reagido de forma diferente à disseminação destes produtos.

Observando a interação do Top quatro Lácteos, com as suas alternativas verificamos outras tantas realidades distintas. O leite é claramente o mais prejudicado pelas alternativas vegetais e sem lactose, sendo que grande parte do valor perdido nesta categoria tem sido direta e consistentemente absorvido pelos seus homólogos não lácteos. Já os Iogurtes apresentam uma relação cíclica com as suas alternativas, sendo que, em 2019, apesar da quebra geral de consumo, as variedades com lactose têm conseguido reaver algum valor perdido ao longo dos anos, sobretudo devido à sua oferta funcional, como os cardiovasculares, defesas ativas e mais recentemente dos iogurtes proteicos. Por seu turno, os queijos revelam uma relação estável com as suas alternativas não lácteas, quase como um pacto de “não agressão”. É verdade que esta é também a categoria em que as alternativas ainda não têm tanta expressão em termos de oferta de mercado, porém é igualmente verificado um crescimento dos queijos dentro do seu próprio comprador, isto é, o comprador habitual de queijo tem adquirido cada vez mais queijo. As manteigas apresentam a tendência mais diferenciadora dos três casos antes apresentados, pois não só os resultados dos últimos anos têm sido bastante positivos como tem consistentemente vindo a absorver perdas do seu principal concorrente, as margarinas de mesa.

Dificuldade em acompanhar as alterações do consumo português

Foram quase menos 300 mil ocasiões de consumo semanais do top quatro nos três anos, sendo que o Leite é responsável por 61% do decréscimo deste valor. Uma das questões que levantamos em relação ao consumo de Lácteos é, se além da expansão das alternativas, estes produtos por si mesmo não se têm integrado na evolução do consumo dos lares portugueses. A primeira questão a que temos de responder é o que motiva ao consumo dentro dos lares e como este tem evoluído? Nos últimos quatro anos, consumo nos lares portugueses tem sido influenciado não só nos produtos que escolhemos ter em casa, mas também os hábitos de consumo que temos fora do lar, sendo que, neste caso, têm crescido substancialmente nos últimos anos. Desta forma, um dos motivos de consumo que mais se alterou dentro do lar foi o hábito, que em 2016 representava 45% dos motivos de consumo no lar, passaram em 2019 para 41%. Por outro lado, crescem motivos de consumo como a saúde sim, mas sobretudo a conveniência e o prazer, colocando-se nova questão: em que medida os lácteos acompanham estas mudanças?

Os lácteos acompanham esta mesma tendência, sendo que a grande diferença, porém é que esta não é o habitat natural deste tipo de produtos que, em média, são consumidos 26% mais via motivos de rotina versus a média e a maioria deles, apesar de crescerem nos motivos de consumo emergentes, surgem ainda bastante subdesenvolvidos. A maior exceção são mesmo os queijos que ao invés do hábito, crescem e fazem da sua força o consumo prazeroso e conveniente. Além do hábito de consumo, os iogurtes surgem também bem desenvolvidos no consumo por conveniência e a manteiga, que é sobretudo guiada pelo sabor, sendo este fator fulcral para distanciar posicionamento em relação às margarinas, algo que os iogurtes não possuem.

Papel dos lácteos nas “cestas de sobrevivência”

O último “teste” aos produtos lácteos surgiu bem mais recentemente. Com a crise provocada pela expansão da epidemia do Covid-19, com todas as restrições e mudanças que ocorreram num curto espaço de tempo, será que os portugueses poderiam encontrar nos lácteos uma solução fiável para fazer face ao tempo de confinamento? A resposta é que, face ao período pré covid, delineado pelos dois primeiros meses do ano, o período de confinamento veio fincar ainda mais que os lácteos como um todo vão continuar a perder espaço. Em termos absolutos, em maior ou menor grau, todos revelaram um “forçado” crescimento, face ao que o contexto exigia, mas quando relativizamos estes dados ao total das compras feitas em alimentação os lácteos perderam espaço, uma vez mais, não só face às quotas que vinham a obter nos anos de normalidade, mas sobretudo face ao período pré covid-19. A exceção foram as manteigas, que continuam a solidificar o seu espaço. Porém, as boas noticias é que quando comparamos com as suas respetivas alternativas, à exceção do leite, as restantes categorias ganharam espaço sobre as suas alternativas.

Qual o caminho para os produtos lácteos?

Se as manteigas se superiorizam às suas alternativas e os queijos ainda pouco sentem o impacto dos produtos sem lactose no mercado, os iogurtes, mas sobretudo os leites enfrentam o maior desafio neste meio competitivo. Apesar de não estar a acompanhar de forma mais afincada a evolução do consumo português, em tempos de crise, verificamos que, mesmo não constituindo uma prioridade na alimentação, os iogurtes lácteos facilmente destronam as suas alternativas. Já o Leite apresenta o caso mais desafiante, pois apesar do elevado nível de armazenamento desta categoria observada durante o confinamento, a verdade é que se desenvolve dentro que uma base de compradores cada vez mais reduzidas, exigindo uma reflexão mais profunda sobre os seus alicerces no mundo da alimentação.

 

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Carolina Jordão
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